Razões da Paixão

Ele tinha os olhos de sono, não de quem passou a noite na farra, mas de quem passou a noite em claro sem motivo aparente

Ela tinha o sorriso doce, que escondia seus temores mas que despiam de vagar uma alma que sente

Ele a olhava com ternura, e com um sorriso que escondia a malícia dos pensamentos que tinha

Ela revidava com um sorriso tímido que se misturava com o olhar misterioso e malicioso como de uma cigana. Entendia-se o que Machado de Assis quis dizer com "olhos de cigana oblíqua e dissimulada"

Ele nunca revelou para ela o que sentia

Ela idem

Anos longos na universidade

Os olhares se cruzaram algumas vezes

Quem prestasse um pouco mais de atenção percebia o fogo que havia

Sentia a tensão que subia

Se fizesse silêncio talvez fosse possível ouvir os batimentos que aceleravam no peito

Peitos

Os dela eram com certeza os mais belos que ele já havia visto

A vontade era de mergulhar como em alto mar naqueles seios

Ela tinha uma intensidade de viver que não era possível mensurar,

não era possível acompanhar
Ele se sentia envolvido por toda essa intensidade, apesar de não entender bem

Ele era a seriedade, a calma
Ela a inconstância, a azáfama
Ele mar 
ela bar
ela caz
ele faz

Ela foi
Ele ficou
A facul acabou
O amor se afastou
Mas permanecia lá
O sentimento ainda estava lá

Talvez eles se reencontrem
Talvez não mais se vejam
Mas ele leva a certeza de que o sentimento estará lá

Parafraseando Blaise Pascal
Ele sabe que estará lá porque o coração tem razões que a própria razão desconhece.
Então, ele estará lá 

Razões da Paixão - Jéssica Siqueira