Nove da Manhã

Nove da Manhã




Ela todo dia passava por mim.
Eu trabalhava em uma lanchonete na rua São João. Todos os dias eu avia passando, sempre no mesmo horário.
Ela tinha aquele cabelo longo e negro, parecia o céu a noite.
Era séria, nunca a vi sorrir, mas não me parecia triste, seu olhar tinha um brilho diferente.
Eu já estava tão atento que quando olhava no relógio e via os ponteiros marcando nove horas eu olhava pela entrada esperançoso, em segundos via aquela beleza atravessar rua, desviar de um camelô na calçada e subir a rua em direção a Igreja.
Quando ela sumia do meu olhar, eu ainda continuava olhando o nada, suspirava de satisfação e era interrompido por alguém dizendo "Um italiano com caldo"
Numa terça feira de maio algo atípico aconteceu.
 Me enrolei com a limpeza do balcão, quando vi a hora já eram nove e dez, a tristeza me pegou, não vi minha musa passar, o tempo foi traiçoeiro comigo "como sou burro", eu pensava.
 Me perdi nos meus pensamentos enquanto terminava de passar o pano pelo balcão.
 Fui acordado por uma voz suave me falando: "Oi! Esse salgado é de quê?"
 Com a volta a realidade olhei para quem me dirigia a palavra e num susto engasguei e paralisei.
 Era ela, a musa inspiradora dos meus mais íntimos sonhos. Sua beleza ainda era mais perfeita vista assim tão de perto.
Aqueles olhos... Ah aqueles olhos!
 Pareciam tão raros quantos pérolas negras. Seu perfume era um toque suave de flor.
 Parecia uma pintura, uma verdadeira obra de arte.
"Você esta bem?" ela me perguntou, foi quando acordei do meu transe
 "Estou sim! É frango com catupiri" respondi, "Para viagem por favor", disse ela.
 Entreguei o embrulho, ela me deu o dinheiro, nossas mãos se tocaram rapidamente.
 Ela me deu um sorriso e agradeceu, virou as costas e seguiu seu caminho de sempre.
E eu continuei ali feito tonto, não acreditava no que havia acontecido.
Voltei aos meus afazeres feliz e cantarolando.
 E claro na esperança e ansiedade de que o amanhã chegasse logo.
 E que o tempo passasse e as nove da manhã chegasse como um furacão.
Ah como eu amo às nove da manhã!


De: Jessica Siqueira





Comentários

Anônimo disse…
Adorei!!!
Jessica Siqueira disse…
Que bom que você gostou! Fique de olho aqui no blog tem sempre textos novos ;)

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